Mario Vargas Llosa: política e literatura lado a lado

Leonardo Dutra
7 de fev. de 2020
3 min de leitura

Atualizado: 1 de jul. de 2020

Considerado um dos principais representantes da literatura latino-americana, o peruano Jorge Mario Pedro Vargas Llosa nasceu no dia 28 de março de 1936, em Arequipa. Nascido em uma filha de classe média peruana, Llosa passou boa parte de sua infância sem a figura paterna, devido ao divórcio de seus pais em menos de um ano após o casamento.

Viveu boa parte de seus primeiros anos na cidade de Cochabamba, na Bolívia, mas, aos dez anos voltou ao país natal com a mãe, após reconciliação com seu pai. Aos 14 anos, por escolha de seu pai, Llosa ingressou em um colégio militar, onde foi aluno por dois anos.

Ingressou em 1953 na Universidad Nacional Mayor de San Marcos, a mais antiga universidade do continente americano e, contrariando a vontade do próprio pai, estudou letras e direito.

Para poder se manter nos estudos, passou a trabalhar em diversas áreas, alguns lugares inusitados, como revisor de nomes em túmulos de cemitério, mas principalmente como redator de notícias em uma emissora de rádio, o que ajudou em sua formação como escritor.

Com 19 anos, se casou com a boliviana Julia Urquidi, irmã da esposa de um tio, com quem viveu até o ano de 1964. Em 1958, Llosa recebeu uma bolsa de estudos na Universidade Complutense de Madri, na Espanha, onde obteve doutorado em letras e filosofia.

Vive alguns anos na França também nesse período e passa a publicar os primeiros livros, começando a ganhar projeção como escritor, principalmente após a publicação de A cidade e os cachorros (1963).

Em 1965 casou-se com a prima Patricia, com quem teve três filhos e, desde então, passa a viver entre Espanha e Peru, se movimentando entre a produção e a crítica literária, além de sua atividade na política peruana, parte importante de sua trajetória.

Inicialmente defensor da política socialista e admirador de Fidel Castro e sua revolução em Cuba, o escritor, já consagrado mundialmente, passou a adotar posições mais liberais, mesmo defendendo os progressos sociais conquistados principalmente nos anos 80. Chegou a se candidatar a presidência do Peru em 1990, por uma coligação de centro-direita, mas perde no segundo turno para o conservador Alberto Fujimori.

Llosa é considerado como um dos precursores do chamado "boom latino-americano", movimento de escritores que ganhou projeção mundial na segunda metade do século 20, junto de nomes como o do colombiano Gabriel García Márquez, o mexicano Carlos Fuentes e o argentino Júlio Cortázar.

Sua obra literária é vasta, incluindo ficção, ensaios e peças de teatro. Sua escrita tem como um dos pontos principais a crítica às hierarquias e castas sociais na sociedade peruana e na América Latina como um todo, além da defesa à liberdade individual frente à realidade opressiva de seu país. Os livro A festa do bode (2000) e Conversa no Catedral (1969) são bons representantes deste estilo.

Outro caráter conhecido de sua literatura é o tom autobiográfico em muitas de suas obras. Em A cidade e os cachorros o autor faz uma dura análise do período em que estudou em um colégio militar durante a adolescência. Já em Tia Júlia e o escrivinhador (1977), Llosa repassa o período em que trabalhou como redator de notícias e o início do relacionamento com sua primeira esposa.

Seus ensaios também representam grande parte do seu repertório literário, seja falando de literatura, onde já escreveu sobre Gabriel García Márquez, Gustave Flaubert e Victor Hugo, entre outros, seja sobre a sociedade em si, como nos mais recentes Sabres e utopias (2009) e A civilização do espetáculo (2012).

Colecionando grandes prêmios por sua produção literária. entre eles, o Nobel de Literatura de 2010, Mario Vargas Llosa se destaca por ser um arauto vivo dos valores e

defeitos que a América Latina representa.