Liev Tolstói: de nobre boêmio a profeta moralista
- Leonardo Dutra
- 6 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2020

Inserido no panteão da literatura russa, das mais importantes de todos os tempos, Liev Nikoláievich Tolstói nasceu no dia 9 de setembro de 1828, na residência de Yasnaya Polyana, território do Império Russo. Nascido de origem nobre, com familiares ligados ao czar, ficou órfão aos nove anos e passou a ser educados por familiares e preceptores.
Se mudou para a cidade de Kazan em 1841, onde, três anos depois, ingressou na universidade para estudar Direito e Línguas Orientais, abandonando os estudos antes de se formar.
Voltou para sua terra natal em 1847, onde se tornou senhor de várias terras e passou a ser conhecido como "Conde de Tolstói". Nesse período passou a viver entre Tula e São Petersburgo, sendo conhecido por suas caçadas, jogos de cartas e vida boêmia, onde acumulou muitas dívidas.
Em 1851, Tolstói se juntou ao exército na região do Cáucaso, onde, no ano seguinte, participa da Guerra da Crimeira. É neste período que escreveu suas primeiras obras. Em 1856, o agora escritor Tolstoi pediu demissão do exército e passou a realizar diversas viagens à Europa ocidental, fato que marcaria seu pensamento sobre a sociedade e, consequentemente, sua escrita.
Em 1860, Tolstói se isola em Yasnaya Polyana, onde passou a observar a vida da classe proletariada russa e a dedicar-se inteiramente à literatura. Se casou com Sófia Andréievna Bers, tendo 13 filhos. É também nesse período que cria uma escola rural para camponeses e passa a dedicar-ser a educação de seus empregados.
Após escrever suas grandes obras e ganhar reputação como escritor, Tolstói passa, nos anos 70, a radicalizar seus pensamentos e a criticar profundamente o Estado russo e a Igreja Ortodoxa, fato que passa a tornar sua escrita cada vez mais polêmica. Acabou sendo excomungado pela Igreja e malvisto pela nobreza.
A partir deste ponto, Tolstói passou a ser mais conhecido por seus pensamentos religiosos e conservadores, atraindo fiéis de diversos cantos. Conhecida como "Tolstoísmo", esta religião foi uma versão do cristianismo, mas que trazia diversas críticas ao modelo oficial da Igreja Ortodoxa, maioria na Rússia.
Nos últimos anos, Tolstói viveu em sua residência oficial. Após a morte de três filhos, passou a ter uma relação complicada com sua família. Em 1910, foge de Yasnaya Polyana em direção a um mosteiro, mas, no dia 20 de novembro do mesmo ano, morre na estação ferroviária de Astapovo, devido a uma pneumonia.
A literatura de Tolstói pode ser divida em fases. Suas primeiras obras nascem enquanto servia ao exército e possuem escrita no formato de memórias. Nesse período escreveu sua famosa trilogia Infância (1852), Adolescência (1854) e Juventude (1856). Outra obra que exemplifica este período é Crônicas de Sebastopol (1855-56), na qual o autor utilizou muito do seu conhecimento como oficial na Guerra da Crimeia.
A partir da sua saída do exército, começa a nascer uma nova fase na vida do autor. Ao analisar a situação da sociedade russa em relação aos países mais ricos e desenvolvidos da Europa, além das dificuldades enfrentadas pela população camponesa e simples de seu país, Tolstói se torna mais pacifista e anárquico.
Neste período escreve suas obras mais reconhecidas: Guerra e paz (1869) e Anna Kariênina (1877). Nelas, Tolstói busca trazer o realismo da sociedade russa do século 19 à tona. Esta fase também é a mais prolífica do autor em produção de ficção, tendo escrito diversos contos e novelas.
A última fase de Tolstói se inicia em 1879 com a publicação do livro Uma confissão. Nela, o autor tece grandes críticas ao seu passado e suas ideias pregressas. Em O que é arte? (1897) condena veementemente a produção artística vigente, incluindo a sua própria obra literária.
Esta fase mais moralista do autor resulta na produção de ensaios cada vez mais polêmicos e violentos, atacando diretamente a Igreja Ortodoxa e a nobreza russa. Além disso, sua literatura se torna mais doutrinária e busca conversar com a consciência religiosa do leitor. Uma de suas obras máximas, A morte de Ivan Ilitch (1886), é escrita neste período. Outras obras destacadas desta época são A sonata a Kreutzer (1889) e Ressurreição (1899).
De vida e obra polêmicas, Liev Tolstói se tornou um dos maiores escritores da história, por conseguir retratar com fidelidade, não só a sociedade russa em um período histórico, como também por se tornar um exímio explorador da consciência humana.
Chegou a ser indicado para ser o primeiro vencedor do Nobel de Literatura, em 1901, mas perdeu para o poeta francês Sully Proudhomme. Este resultado foi considerado um escândalo a época e muitos consideram como uma injustiça até hoje. O fato é que, mais de cem anos após sua morte e grandes mudanças no cenário mundial, Liev Tolstói se mantém vivo através de sua escrita até os tempos atuais.
PRINCIPAIS OBRAS
Guerra e Paz; Anna Kariênina; A Morte de Ivan Ilitch
RECOMENDAÇÃO
A Sonata a Kreutzer
FRASE
A palavra pode unir os homens, a palavra pode também separá-los, a palavra pode servir o amor como pode servir a amizade e o rancor
Comments