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O Compromisso, de Herta Müller

  • Foto do escritor: Mariana Knorst
    Mariana Knorst
  • 15 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Para entender o universo de Herta Müller é necessário repassar alguns pontos do contexto histórico da Europa e da Romênia, país de nascimento da escritora.


Sabemos que entre 1939 e 1945 o mundo foi assolado por um dos piores e maiores conflitos armados, que dizimou entre 50 e 70 milhões de pessoas.


Herta Müller nasceu em 1953 e cresceu enxergando ao seu redor os reflexos da guerra. Seu pai foi membro da SS (Schutzstaffel), grupo paramilitar nazista, e sua mãe, ao término da guerra, foi deportada para um campo de trabalhos forçados na União Soviética.


Com o término da guerra, a Romênia foi submetida à ocupação soviética, período que perdurou de 1944 à 1958. Contudo, a influência soviética se manteve ativa no país pelo menos até o término da guerra fria.


Todo o período em que a Romênia esteve sob a sombra soviética foi de instabilidade e terror para grande parte da população. Houve a diminuição das liberdades políticas, o governo organizou campanhas de expurgos, a economia entrou em colapso, as opções de emprego eram precárias e a qualidade de vida extremamente baixa.


E é justamente esse o sentimento que permeia O Compromisso, publicado em 1997 e que chegou ao Brasil apenas em 2004, com a tradução de Lya Luft.


Na história, acompanhamos uma jovem operária que regularmente é convocada a prestar depoimentos. Nossa protagonista, que representa a sociedade e não possui nome, está sob a suspeita de traição: bilhetes foram encontrados em peças de roupas enviadas à Itália.


Apesar de negar veementemente, sabemos que a operária é a responsável pelo envio de um dos bilhetes, em que desesperadamente e utopicamente pede em casamento um desconhecido, na esperança de se ver resgatada do regime opressor.


Enquanto observamos as convocações da protagonista, conhecemos aspectos de seu passado, ponto fundamental para a compreensão da narrativa. Descobrimos que seus avós perderam o patrimônio, foram enviados para campos de trabalho forçado e seus pais viveram um relacionamento permeado pela moral hipócrita.


O resultado de todo esse cenário caótico é a operária, cuja personalidade é diretamente moldada pelo descaso, pelas frágeis relações interpessoais, pela falta de empatia, pela opressão, a fome e o medo. Ou seja, um reflexo nu e cru da sociedade da Romênia durante as décadas de 70 e 80.


Apesar de ser um livro relativamente curto, sua história é densa e rica em cores, sentimentos e cheiros, o que transmite ao leitor o ambiente carregado e instável do período. Meu primeiro contato com Herta Müller foi bastante positivo, rendendo vários momento de reflexão sobre as diversas camadas da história.

 
 
 

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