A Mulher de Pés Descalços, de Scholastique Mukasonga #5
- Mariana Knorst
- 20 de out. de 2019
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jul. de 2020

“Os pobres restos de minha mãe se perderam na pestilência da vala comum do genocídio, e talvez hoje, mas isso não saberia dizer, eles sejam, na confusão de um ossuário, apenas osso sobre osso e crânio sobre crânio”.
O trecho acima caracteriza o tom do livro trazido pela autora Scholastique Mukasonga, que relata suas memórias sobre sua mãe, na Ruanda da segunda metade do século 20.
Ruanda foi palco de diversos conflitos de grande porte, principalmente o genocídio de 1994, que marcaram gerações e que ainda hoje traz marcas profundas em todos os âmbitos de sua organização.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, sob a administração da Bélgica, os conflitos sociais se tornaram mais evidentes, sobretudo com o aumento de poder dos hutus e das investidas contra o povo tutsi, que foi exilado.
Os hutus, tutsis e twas são a composição social de Ruanda, que se organizam como agricultores, criadores de gado e ceramistas, respectivamente. Etnicamente, não há diferença entre os povos, prevalecendo apenas o sistema imaginário de castas.
A família de Mukasonga era tutsi e como tal se juntou aos demais exilados, longe de suas terras originais, impedida de exercer sua função na estrutura social (criação de gado), o que desmantelou sua organização financeira.
Nesse contexto, o livro traz duas grandes críticas intrínsecas aos seus relatos: o atraso social (principalmente em relação às mulheres) e a interferência da Igreja católica na cultura ruandesa, mostrando o conflito da obrigatoriedade ao culto do novo Deus e a forte tradição de suas raízes.
Mukasonga, apesar da inclinação afetiva, cumpre a função de apresentar ao leitor a realidade nua e crua da Ruanda. Portanto, não espere final feliz ou alguma conclusão, pois não há. Aqui, temos apenas memórias de dor, sofrimento e algumas pequenas alegrias, trazidas através da visão de uma criança/adolescente forçada, pela história do seu país, ao amadurecimento precoce.
Como complemento à leitura e/ou caso você queira conhecer um pouco mais sobre a história de Ruanda, recomendo assistir à entrevista concedida pela autora ao Globo News, no programa Milênio, e ao filme Hotel Ruanda (2005), de Terry George.
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